HÁ FESTIVAIS E FESTIVAIS

Férias são férias! No Verão, aqui em Portugal, as férias são em grande. É nessa época bem quente que tudo acontece. O país inteiro está em festa, ou porque temos os retornados por uns dias ou pelas tradicionais romarias e outras comemorações religiosas ou comunitárias, tudo ou muito pouco de nada são razões para se comemorar com música, bailaricos, concertos e festivais. Em todos os cantos e recônditos cantinhos os Festivais Musicais imperam.
O que me deixa triste é esse espírito não se manter todo o ano. Vão-se o quentinho e o sol de Verão e o “Festival” ganha, ou melhor, perde o sentido de alegria, diversão, convívio. A qualquer um que se fale em Festival, são feitas as seguintes associações, que por mero acaso não tive o vagar de ir ver se o mesmo se poderá encontrar num dicionário comum; os espectáculos nos quentes dias e noites de Verão, que terminavam sempre com a sensação de que “se mais tivesse, mais eu curtia”, ou "aquele concurso de música portuguesa que faz parte da história da TV onde eu nunca vi vencer aquela música que seria sem dúvida a favorita e vencedora na Europa e por essa e outras razões deixei de ver".
É duro, mas foi assim que depois de ter convidado um grupo de amigos a assistir um dos ESC, criei estas definições para o mesmo conceito. Passo a explicar:
De férias, resolvi juntar alguns amigos que não vejo durante o ano inteiro para um jantar. Enquanto seleccionava a música que iria servir de fundo para o grande convívio, revolvi que o melhor seria colocar um mix de áudio e visual, pois uma grande televisão desligada sem nada é triste, ou estar a passar algo completamente diferente do que se está a ouvir é quase o mesmo que estar ligada a fazer companhia, mas como não estava sozinho… – bem, voltando ao que interessa. – No de escolher um dos concertos que tenho, decidi que seria muito bom acompanhar a refeição com o ESC 2007 a Grande Final. No meio do jantar enquanto riamos das várias histórias de vida que trocávamos para actualizarmos a nossa amizade, houve sempre quem se encantasse com o que estava a acontecer na TV, ou por que a música era agradável ou pelo espectáculo todo, as luzes os efeitos especiais, a euforia do público que ferrenhamente fazia ondular as bandeiras, ou na tentativa de descobrir que espectáculo de música era aquele onde não aparecia nenhum dos grupos e cantores da MTV. O certo é que houve alguém que sacou da sua ousadia e resolveu perguntar. Respondi que era o Festival na esperança de que esta expressão tão familiar dos jovens da minha geração permitisse uma associação imediata, visto que o que estava a dar no televisor, ser bastante diferente do formato que assistíamos nos serões em família, anos atrás. Mas, como não podia deixar de acontecer, houve logo uma voz que trouxe a sensação que me deixou desanimado: “ Mas qual? O Super Bock Super Rock? O Sudoeste? O Rock in Rio?” – Quando finalmente esclareci, a expressão de todos foi: “Mas assim? Com aquela gente todas aos pulos a agitar bandeiras? Com este tipo de música? E a orquestra onde está?” Nessa altura fiquei a pensar se tinha sido uma boa escolha e se realmente seriam merecedores ou se saberiam apreciar o espectáculo, porque para além da ignorância eurovisiva também revelaram o estado de espírito, que não deixa de ser menos ignorante, de: “Festival da Canção? Credo!!! Cruzes, Canhoto!!!! Tira-me isso!!!”
Pois é! Por muito que me custe sei que não são os únicos. Infelizmente!
Sabem de quem é a culpa? É nossa, ou melhor da RTP que no seu dicionário não modernizou a palavra Festival e mantém os Portugueses num constante “Sol de Inverno” no que diz respeito ao Festival da Canção e ao ESC.

Se tivéssemos um verdadeiro Festival, haveria mais de nós a relembrar o maravilhoso espectáculo de 2007, assim como se se recorda de uma bela noite de Verão, a levantar poeira enquanto se vibra com belo espectáculo de música.